18 de setembro de 2014

Invisíveis?

Colocava os fones de ouvido. Nada tinha importância. Algo tinha importância? Aumentava o som. Tudo que se passava ao meu redor não existia. Ou existia? Tem verdades que não queremos ver. Tem verdades que não precisamos ver? Atenta a janela  via o que se passava do lado externo do ônibus, mas não enxergava o que passava dentro. Um cara pedia esmola. Babulciava palavras ininteligíveis. Gritava. Eu tinha medo. Contava os segundos para que aquele grito voltasse a ser silêncio. É tão mais cômodo quando não somos obrigadxs a perceber a realidade. É mais fácil não enxergar o choro, o pedido de ajuda ou de me enxergue. Eu estou aqui. Mesmo que você não me enxergue. 
Mesmo que você não queira me enxergar. Eu estou aqui. Sim, ele estava. Eu queria enxergá-lo. O olhava timidamente. Imaginava milhares de formas de começar uma conversa. Ele me fitava. Eu retirava o olhar do olhar dele e sentia medo. Mas, moço, eu te enxergo. Moço, eu quero saber da sua vida. Ele foi embora. Nenhuma palavra saiu da minha boca, mas não consigo mais esquecer aquele moço. E os tantos outros moços e moças. Eu quero ouvir vocês.

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